Por Berna Almeida

crônicas -

Para Onde Foram todos?


Sim seria até quem sabe, dias alternados, sim é óbvio, é mamãe, e o que me custa? 5 filhos predispostos ao revezamento, todos trabalhando, engajados na vida, e sem mais nem menos, nos vem a notícia após um AVC, que mamãe não seria mais a mesma, aliás nunca mais fomos, desde o dia em que recebemos o diagnóstico positivo da Doença de Alzheimer.

Vez por outra me pego perguntando: – Cadê Amália? Será que ela se foi com o quarteto que D. Zefinha, tinha como filhos?

Cadê Amália, aquela executiva que arcava com as suas contas, morava sozinha, fazia faculdade, tinha acabado de ser promovida?…

Cadê Amália? Meus irmãos me disseram que revezando poderíamos seguir o curso do rio, sem nos abalar com as correntezas…

Só que não… Na 1ª oportunidade pularam do barco e me deixaram a mercê dos mais bravios temporais, não se preocuparam em saber se havia boia, muito menos se eu sabia nadar… Fomos largadas ali, ilhadas sem rumos, perdidas…


Nesse ínterim tive que aprender o que nunca me ensinaram, tive que me despir diante da vida, e encara- la da pior forma possível.

Mamãe não tinha mais ninguém além de Amália, tive que resgata-la para que ela sentisse que havia alguém ali, por ela, e esse alguém abaixo de meu Deus, era eu.

Me desfiz de tudo que me afastava de mamãe, e me entreguei de corpo e alma em prol de sua vida…

Nadei de braçadas mesmo sem saber para onde estava indo, eu sabia que precisava ir, eu sabia que alguém em algum lugar nos esperava, eu sabia que Amália precisava descer do salto 15, e andar descalça em prol de quem lhe deu a vida.

Não foi fácil, pensei por diversas vezes em entrega-la nos navios negreiros, que vez por outra cruzávamos…. Eu olhava aquele corpo definhando a cada dia, ela já nem sabendo mais quem eu era, mas eu lhe dizia. que por ela eu iria lutar até o fim, e ela me fitando com seu olhar longo e lacrimejante, me perguntava: E você,minha filha? E você?


Não havia resposta, havia trabalho, nado livre, borboleta, todos os tipos que possam existir na vida, eu fiz por ela, eu precisava aprender.

Em um belo dia, a exaustão me apossou, deitei ao seu lado , a abracei e deixei que o barco descesse o rio a deriva…

Quando acordei nosso barco estava parado em uma praia deserta, um sol como nunca visto, olhei para mamãe, olhei para o céu, ela me disse: Filha, está na hora de você buscar Amália e faze-la feliz.

A família em peso estava no enterro de mamãe, cada um sentindo ou não,a sua maneira…

Mas eu estava em paz, e em paz fui em busca de Amália.

Tem 3 anos que voltei ao mercado de trabalho, recuperei minha auto estima, casei, tenho uma filha chamada Josefina, in memorian de minha mãe.

Sabem de uma coisa, assim que der, e sempre que der, se busquem, se refaçam, se reinventem, voltem a viver, voltem a estudar, casem, viajem, tenham filhos, e não se esqueçam de vez por outra olhar para o céu, agradecer e sorrir, afinal, você é, você foi um grande instrumento que Deus usou, para cuidar de alguém. Não havia outro para cumprir o seu papel.

Você é insubstituível!

Meu nome é Amália.

E o teu?



Autoria: Berna Almeida